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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Entrevista – Wyry Paiva

Qual a inovação impressa no trabalho de vocês?

O RN tem força política inferior a outros estados nordestinos. E não quero que o meio em que vivo sofra da mesma inferioridade. Tenho pesquisado essa identidade potiguar. Temos muita cultura com potencial para mesclar ao fator comercial. O côco zambê, por exemplo, mesclado ao reggaetown, de fora. Em junho pretendemos lançar novo CD já com esse estilo definido e mesclado ao forró – estilo mais lucrativo, porque também temos de pensar no lucro. Então, tenho pesquisado esses ritmos inseridos no universo do forró para garantir contratos e mostrar inovação.

Sua formação acadêmica de licenciatura em Letras e Artes pela UERN contribui na elaboração das composições da banda?
Sim. Faço questão de 70% do repertório ser autoral da banda. No DVD foi de 80%. Mas nem sempre o que queremos é o que o público quer. Escrevo a música que o povo quer ouvir. A forma de tocar é que é do nosso jeito.

E o que o povo quer ouvir?
O povo quer ouvir o mais volátil. O refrão tem de ser pequeno, fácil de aprender porque o tempo de sobrevida das músicas hoje é curto. Dura um máximo de três meses. Às vezes produzem coisas patéticas; às vezes, legais.

É o retrato da modernidade veloz...
Tudo é muito efêmero, hoje. É como a coisa do “ficar”. Você fica com uma garota hoje e amanhã quer outra – acho um bom comparativo com a realidade do forró hoje em dia.

Os forrós eletrônicos trazem alusões ao sexo, ao alcoolismo ou ao comportamento desvirtuado para uma juventude sadia e educada. O maior sucesso de vocês se chama Rei da Farra. De que trata a música?
Faz alusão ao que o jovem da classe média é ou tem vontade de ser: um cara endinheirado, com carrão cheio de mulheres turbinadas e muito uísque. É a visão do playboy. Não é desvirtuamento. Dessa forma encaixamos o trabalho da banda ao que o mercado pede. Imagina uma banda de forró com músicas didáticas? Espero que o mercado vença essa barreira. Eu nunca bebi, nunca usei drogas e nem entrei em cabaré.

Mastruz com Leite e Cavalo de Pau ainda cantam o amor, as coisas do sertão, a vida do vaqueiro. Essa toada não tem mais mercado?
Não temos mais grande êxodo rural. O nordestino não vive mais tão aperriado. E os pobres não vão mais à festa. O forró vem do for all (para todos). Não é mais assim. Luiz Gonzaga trouxe o forró do sertão à metrópole. As bandas de baile iniciaram o forró eletrônico em festas, vencendo a barreira do que era considerado brega, música de pobre. Isso até surgir o Mastruz com Leite, que montou rádio e estúdio e popularizou de vez o estilo no meio social. E quem vai hoje à festa é o playboy, a patricinha ou quem quer ser aceito por esse grupo social. Então, cantamos essa realidade burguesa, mesmo que talvez utópica.


Primeiro se muda o público...
E depois o mercado. O pai de hoje foi aquele que ouviu música de qualidade, se formou em condições piores, conquistou status e oferece hoje ao filho melhores condições, uma realidade diferente da que viveu. Então, cabe aos pais também mostrar música qualificada em casa: o que ele ouvia no passado.

* Publicado  no Diário de Natal

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